Mês dos namorados
Amor em todas as idades e para todas as idades
Relacionamentos baseados na admiração, respeito e autoconhecimento são algumas das vantagem de relações na maturidade
Foto: Luiz Carlos Vaz - Especial - DP - Casais mais maduros têm em seus relacionamentos ingredientes que são essenciais para os benefícios da saúde física e mental
Por Joana Bendjouya
Na semana dedicada para as celebrações do amor, é importante lembrar que o amor não tem idade e que o envelhecimento de uma pessoa não significa que ela deva ser privada de vivenciar novos momentos de romance.
Segundo o geriatra Waldemar Barboza, todos procuram momentos de alegria, independente da fase da vida em que se encontram, e isto inclui o namoro, que quando ocorre com os mais velhos é muitas vezes uma oportunidade de reencontrar a alegria perdida. “Para adultos mais velhos, é importante encontrar outra pessoa com valores, interesses e experiências semelhantes. Os encontros e reencontros podem levar a relacionamentos ricos e agradáveis, trazendo alegria e felicidade aos envolvidos”, enfatiza.
O especialista afirma ainda que o amor na terceira idade é uma realidade que deve ser encarada com muito respeito e sensibilidade, com as pessoas, principalmente próximas ao casal, convivendo sem julgamentos ou preconceitos e levando em conta o bem que aquela relação pode trazer para vida envolvendo a saúde física, mental e social do casal. “As possibilidades e alegrias dessa fase da vida podem ser tão intensas quanto em qualquer outra, desde que sejam levadas em consideração as limitações e restrições enfrentadas por esses indivíduos. A maturidade e a sabedoria adquiridas ao longo dos anos podem enriquecer os relacionamentos amorosos dos idosos, proporcionando a eles uma vida afetiva plena e feliz”, ressalta.
Para Cleida Corbellini, 54, o fato de casar e formar uma família não estava nos seu planos de vida adulta, tanto que não era algo que buscava nos seus relacionamentos. Isto até conhecer Paulo Luis Rosa Sousa, 79, com quem é casada hoje em dia, e já estão juntos há 11 anos. “Eu não tinha o sonho de toda mulher, de casar e ter filhos, escolhi ser solteira e morei sozinha por escolha”, conta.
Cleida relembra que sua certeza mudou quando em 2007, cursando Psicologia, conheceu um professor da faculdade, 25 anos mais velho. Ela conta que não demorou muito e se viu apaixonada. “Eu tinha 39 anos na época. Ele mais velho, tinha então 64 anos. Ele não usava aliança, eu não sabia se era casado. Uma noite após a aula, fui até a sala do mestrado e resolvi questionar se ele tinha alguém e ele me respondeu que sim, e que era o amor da vida dele. Eu amei e odiei a resposta. Amei porque pensei: ‘é isso que quero, um homem apaixonado’. Nem preciso comentar o por quê odiei”, relembra com humor da situação.
Ela conta que continuou aluna deste professor por mais dois anos e nem imaginava que poderia ser possível algo entre eles. Até que, em 2012, se reencontraram e desde então o romance passou de namoro para casamento. “Eu estava trabalhando, recebi uma ligação e escutei o seguinte: ‘hoje sou eu que te pergunto: tens alguém?’ Eu continuava sozinha. Começamos a namorar e tentamos morar juntos, não deu certo, separamos por 11 meses. Aí nos reaproximamos e eu propus morarmos em casas separadas e tudo fluiu, por sete anos vivemos assim. Com a pandemia me mudei para a casa dele, vendi meu apartamento e estamos construindo outra casa”, conta.
Paulo conta que ambos realizaram a construção do amor deles. Independente da idade que tenham, a maturidade que eles se percebem é a peça-chave para esse amor dar certo. “Somos fragmentos das estrelas e gostamos de lembrar da nossa relação assim, que os astros têm as órbitas, uns orbitam em tornos dos outros. Elas são elípticas, sendo assim, há momentos em que um astro está mais próximo do outro e há momentos que está mais afastado. Achamos simpático e interessante falar assim. A gente não pode estar permanente em cima do outro. Há momentos de maior proximidade e momentos de maior distância, sendo que se permanece na mesma órbita do nosso amor. Claro, durante a paixão a gente quer estar permanentemente com o outro e, quando evolui para o amor, há uma variação”, reflete.
Vida íntima
Se engana quem pensa que os namoros e casamentos a partir dos 60 anos são relações nas quais são baseadas exclusivamente na amizade e no companheirismo. A paixão e a sexualidade existem, só que neste momento da vida, ganham uma nova ótica e importância. “Nossa sexualidade foi se adaptando à naturalidade do envelhecimento e de acordo com a vida: mudando. Segue prazeroso, importante, necessário, somente diferente. Um processo de acolher e experimentar. Quando acolhes, observas, experimentas, tu determina o limite e, de certa forma, não há limite. Somente mudança”, observa Cleida.
O geriatra ressalta que é importante dar atenção a estas mudanças que o passar dos anos apresenta, sejam elas físicas ou até mesmo emocionais. E devem ser encaradas da forma mais natural possível e, quando necessário, a busca por ajuda profissional é também uma saída. “Também é importante lembrar que o amor na vida adulta tem seus limites. Algumas pessoas podem enfrentar dificuldades de saúde que afetam sua capacidade de se relacionar, como dificuldade de locomoção, audição, visão ou doenças crônicas, que requerem a compreensão e assistência de um parceiro, bem como o apoio de um profissional de saúde.”
As pessoas muitas vezes veem a sexualidade na maturidade com estranheza, reservando a vida sexual ativa somente aos casais mais jovens. Carregada de tabus e preconceitos, alguns processos comuns pelo avançar da idade como para os homens, a possibilidade da perda da ereção e da potência sexual e para as mulheres muitas vezes as dificuldades que envolvem perda do desejo sexual. Estando entre as causas físicas, as alterações hormonais, como as que ocorrem durante a menopausa, podem contribuir para diminuir a libido. O geriatra ressalta que ainda existe este tipo de julgamento, que são prejudiciais à saúde dos idosos e do casal em questão, quando deveriam se sentir amparados e apoiados para viver este momento sem nenhum tipo de vergonha.
“As restrições e censuras, sociais e familiares, podem afetar o amor na terceira idade. O preconceito ainda existe e muitas pessoas acreditam que os idosos não deveriam se envolver em relacionamentos amorosos ou mesmo em atividades sexuais”, destaca a psicóloga clínica Marlise Flório Real. Ela analisa que a maturidade é um processo individual. “As músicas da Rita Lee falam muito de amor, envolvimento, paixão e de sexo, diferenciando essas coisas todas. Eu acho que realmente é como ela diz em uma das músicas: amor é um livro e sexo é esporte. Claro que falando poeticamente, mas amor é algo muito mais intenso, é construído e algo de conhecimento de si próprio e do outro. À medida que esse amor é construído, do processo, da rede de vínculos que envolve as pessoas, ele fica mais sólido. Quando as pessoas se dão contam que amam, elas fazem o possível para ultrapassar inúmeras dificuldades. O amor envolve admirar, respeitar a outra pessoa, ser leal e ir criando bases mais sólidas.”
* Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), toda pessoa com idade acima dos 60 anos é considerada idosa. No Brasil, são mais de 30 milhões de indivíduos, de acordo com os dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), realizada em julho de 2022.
A previsão é que, em 2030, o País tenha a quinta maior população de idosos no mundo. Um dos motivos que deve ser considerado, já que se trata de parcela representativa da sociedade e que merece atenção em suas diversas questões.
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